Pesquisador alerta para impactos do turismo desordenado nos recifes de corais de Alagoas
31/01/2025 19:34 | Texto de:
Escrito por Arthur Vieira/ UP | Foto de: Reprodução
O turismo desordenado e atividades nos ambientes recifais de Alagoas têm gerado preocupações quanto à preservação da biodiversidade marinha e ao futuro do turismo no estado. O alerta vem do professor Robson Guimarães dos Santos, doutor em biologia animal e pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele destaca que as práticas turísticas, como festas noturnas com iluminação intensa e som alto, além de outras atividades, estão colocando em risco os delicados ecossistemas recifais.
Segundo o pesquisador, as festas e eventos noturnos realizados nos recifes podem ter efeitos devastadores sobre os organismos marinhos. A iluminação artificial excessiva e o som alto interferem no comportamento e na reprodução de várias espécies marinhas, incluindo os corais. "A iluminação intensa pode desorientar organismos marinhos, afetar o comportamento e a reprodução de corais, e até atrair predadores para áreas onde normalmente não estariam. Já a música alta pode prejudicar a comunicação de peixes e invertebrados, além de estressar organismos sensíveis, como peixes e tartarugas marinhas", explica.
Ele alerta também que, em alguns casos, a luz artificial interfere na desova dos corais, que depende da luz natural da lua para acontecer adequadamente. A introdução de luz artificial pode, portanto, comprometer o ciclo reprodutivo dessas espécies. O impacto contínuo do turismo, tanto durante o dia quanto à noite, prejudica ainda mais a saúde dos recifes, criando um ambiente desfavorável para a manutenção do ecossistema marinho.
Crise nos recifes de corais
Outro ponto crítico destacado por Robson Guimarães é a degradação alarmante dos recifes de corais no estado. Em 2024, Alagoas registrou uma mortalidade de entre 80% e 90% dos corais nos recifes rasos monitorados. O principal fator apontado para essa mortalidade é o aquecimento das águas oceânicas, ligado às mudanças climáticas.
"Estamos passando por uma crise global dos recifes de corais, que estão sendo afetados tanto pela degradação costeira quanto pelos aumentos de temperatura das águas. Esse quadro, combinado com o turismo desordenado, cria um ambiente completamente desfavorável à recuperação e à saúde dos recifes nos próximos anos", afirma o biólogo.
Naufrágio de embarcação chama atenção para a falta de regulamentação
Além dos impactos ambientais, a falta de regulamentação também tem se refletido em acidentes envolvendo atividades turísticas. No último dia 26 de dezembro, uma embarcação clandestina naufragou durante um passeio turístico no mar de Ponta Verde, em Maceió. O passeio, conhecido como "banho de lua", terminou em um incidente que resultou no resgate de 12 pessoas. Embora a maioria dos envolvidos tenha saído ilesa, uma mulher de 25 anos foi hospitalizada após sofrer afogamento e fraturas no crânio.
O condutor da embarcação, que não possuía habilitação, fugiu do local após o acidente, evidenciando a falta de controle sobre essas atividades e os riscos envolvidos.
A combinação de práticas turísticas irregulares, aumento das temperaturas oceânicas e a pressão sobre os recifes de corais levanta um alerta sobre o futuro dos ecossistemas marinhos e da indústria do turismo em Alagoas. Para especialistas, é urgente que haja uma regulamentação mais rígida e um maior controle sobre essas atividades para garantir a preservação ambiental e a segurança dos turistas.