Denúncias, invasão de terra e ameaças de morte contrastam disputa por conglomerado deixado por João Lyra
05/09/2023 15:18 | Texto de:

Usina Laginha | Foto de: Reprodução

A Usina Guaxuma, localizada em Coruripe, Alagoas, tem sido palco de uma série de polêmicas judiciais e disputas familiares desde que a Laginha Agroindustrial S/A, uma das principais propriedades do falecido ex-senador João Lyra, entrou em falência após sua morte em 2021. Composto por vastas fazendas e um parque industrial destinado à moagem e processamento de 1,8 milhão de toneladas de cana-de-açúcar por safra, o local se tornou um campo de batalha legal.
Os herdeiros de João Lyra, incluindo Thereza Collor e seus irmãos, estão divididos em relação ao futuro da Usina Guaxuma. Enquanto uma parte insiste em manter a propriedade, outra ala pleiteia a venda total do patrimônio. Essa venda serviria para quitar as dívidas pendentes e encerrar o processo de falência, preservando uma parte considerável da fortuna avaliada em 4 bilhões de reais.
Além das disputas familiares, a Usina Guaxuma enfrenta outro desafio: mais de quarenta invasores de terra têm utilizado as terras para produzir cana-de-açúcar. Uma usina local compra a produção e repassa uma pequena parte dos lucros à massa falida, sob a alegação de arrendamento. No entanto, o processo é contestado por três pequenos agricultores, que não se consideram invasores e estão em disputa pela posse da terra na Justiça.
Os administradores judiciais alegam que o edital de arrendamento foi publicado dentro do prazo adequado e que houve apenas uma única proposta. Eles afirmam que não houve pedido de impugnação e negam qualquer favorecimento. No entanto, as novas denúncias colocaram em questão a legalidade desses acordos temporários e podem levar parte dos herdeiros a buscar ações adicionais para resolver a situação.
Uma planilha apresentada no processo revelou que os agricultores foram forçados a participar de um rateio de mais de 14,5 milhões de reais entre outubro de 2022 e junho de 2023, supostamente destinado à massa falida. No entanto, apenas 6,2 milhões de reais entraram efetivamente no caixa da massa falida. Os invasores alegam que essa operação foi combinada com uma "gangue de ladrões" envolvida na falência, visando extrair dinheiro da venda da cana. Eles argumentam que o negócio não é rentável devido a uma grande quantidade de intermediários.
Áudios obtidos durante reuniões entre os invasores revelam discussões sobre a ilegalidade da ocupação das terras e mencionam riscos de incêndios propositais caso ocorra uma ação de reintegração de posse determinada pela Justiça. Os participantes também mencionam a influência dessa "gangue" na falência e o medo de um incêndio proposital como motivo para não tomar total controle das terras.
O conjunto de áudios agora disponível pode inflamar ainda mais a polêmica que envolve a Usina Guaxuma. A gestão responsável pela massa falida do Grupo Laginha lançou um edital em junho para arrendar as terras atualmente invadidas, e apenas um grupo mostrou interesse. Esse consórcio de dez empresas tem ligações com os invasores nomeados na planilha do processo e levanta suspeitas sobre a transparência do processo de arrendamento.