Chegada da internet faz jovens indígenas trocarem caça e pesca por pornô

08/06/2024 15:31 | Texto de:


Indígenas | Foto de: Reprodução



A chegada da internet de alta velocidade nas áreas remotas da Amazônia trouxe mudanças significativas para as tribos indígenas locais, tanto positivas quanto negativas. Nos últimos nove meses, desde que a Starlink, empresa de Elon Musk, começou a oferecer o serviço, os povos originários começaram a enfrentar desafios semelhantes aos da sociedade moderna.

Uma equipe de reportagem do The New York Times mergulhou nas profundezas da floresta para testemunhar em primeira mão o choque cultural que marca o início da era digital para os Marubo. Vivendo em malocas espalhadas por centenas de quilômetros ao longo do rio Ituí, a tribo preserva há séculos suas línguas, rituais com ayahuasca e a criação de macacos-aranha como animais de estimação. No entanto, essa rica cultura corre o risco de perder força entre as novas gerações, rendidas aos encantos e perigos da internet.

Após uma árdua viagem de sete dias, os jornalistas se depararam com um cenário inusitado: jovens Marubos hipnotizados por seus smartphones, alheios às tarefas ancestrais da caça e da pesca. A imersão no mundo virtual trouxe consigo uma enxurrada de influências: fofocas nas redes sociais, vício em jogos, interação com estranhos online, exposição à pornografia e até mesmo golpes e desinformação.

Tsainama Marubo, de 73 anos, compartilhou sua preocupação: “Os jovens ficaram preguiçosos por causa da internet. Eles estão aprendendo os costumes dos brancos”. Segundo ela, os mais novos não estão mais interessados em seguir as tradições da tribo, como fazer tinturas e joias, e alguns deixaram até mesmo de caçar e pescar.

Além disso, observou-se que os indígenas estão menos concentrados e perdem o foco facilmente. A introdução da internet está desafiando a continuidade cultural e social dos Marubos, levantando questões sobre o equilíbrio entre a modernidade e a preservação das tradições.

Apesar dos desafios, a conectividade trouxe também alguns benefícios. O acesso à informação global pode proporcionar novas oportunidades de educação e conhecimento. Os Marubos podem agora se conectar com outras comunidades indígenas e organizações que lutam por direitos semelhantes, fortalecendo suas vozes em questões de importância global, como a preservação ambiental.

No entanto, o dilema permanece: como aproveitar as vantagens da internet sem perder a essência cultural? A experiência dos Marubos serve como um alerta para outras comunidades indígenas que estão prestes a se conectar com o mundo digital.